MENINO TEIMOSO

Jamais te esqueci, meu menino teimoso; mesmo quando a distância fazia uma planície listrada de melancolia e desamparo.

Jamais te esqueci, menino travesso, dos teus sonhos, de tuas circunstâncias e melodias.

Jamais tirei da lembrança teus cabelos loiros, os olhos de mar onde eu me espelhava e via a menina que sorria e era eu mesma, atrelada aos teus braços naquele beijo mágico, e isto foi constante em muitos anos, porque te guardei na memória, numa anterioridade lógica para te encontrar num tempo de sempre, com evidência de espera.

As cicatrizes toldaram minha alma, nessa milenar passagem do tempo.

Minha secreta escolha de anjo, menino vadio, Eros sublime e ilusão, fez o amor secreto que me levou ao desejo e o desejo ao encontro, o encontro me levou ao poema, que comovida te ofertei num papel de cigarro, de prata, com centenas de corações espalhados, com rima e métrica, um fruto tipificado de sedução do meu próprio sonho, numa forma de conquista, nova, pura e inspirada com a eternidade.

Jamais te esqueci, menino travesso, porque estavas em meu destino, escrito na palma de minha mão, numa lembrança esplendorosa, com teus traços visíveis, atração e fantasia.

Jamais te esqueci até o final, com brinde de amor maduro, repetindo tua chegada.
Naquele dia, o vento abanou teus cabelos, agora grisalhos,
O fogo acendeu teu beijo e me fez um rio de maré salgada.
O frêmito em êxtase da minha imaginação foi igual àquele dia, - o da partida.
E com o corpo colado, segui, de mãos dadas contigo, menino,
porque tudo passa, mas não saíste da memória.
Jamais te esqueci e não te esquecerei, menino, nessa zoeira de vida.

Margarida Reimão